18 de fevereiro de 2020

A ARTE COMO FATOR DE SOBREVIVÊNCIA EM SITUAÇÕES EXTREMAS

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O processo de desumanização que aconteceu nos campos de concentração continua presente na atual realidade socioeconômica brasileira por meio do descaso, da injustiça e da corrupção.

O escritor judeu italiano Primo Levi e a escritora negra brasileira Carolina Maria de Jesus tinham algo em comum: precisavam da sua arte para sobreviver em situações extremas: ele, como prisioneiro num campo de concentração durante a segunda guerra, e ela em condições de miséria, numa favela de São Paulo. Escrever, para eles, era uma válvula de escape e também o que lhes dava condições de lutar pela vida.

Diálogos Inusitados entre a Escravidão a Arte e o Holocausto é o tema do próximo Papo de Boteco, que acontecerá no dia 17 de fevereiro às 19h30 no bar e restaurante Sujinho. A entrada é franca e as pessoas pagam somente pela consumação. O encontro é uma realização da Galatica Educação & Cultura.

A apresentação estará a cargo de Luciane Bonace Lopes Fernandes e Naia Veneranda. Luciane Bonace é pós- doutora em Línguas Orientais, doutora em Educação e mestre em Estética e História da Arte. Naia Veneranda é jornalista e mestranda em Estudos da Tradução.

A fala de Luciane Bonace terá dois enfoques principais. O primeiro é o processo de desumanização que, apesar de ter sido sistematizado pelos nazistas durante a II Guerra e aplicado a judeus e outras minorias, também esteve e está presente na atual realidade socioeconômica brasileira por meio do descaso, da injustiça e da corrupção.

O outro enfoque é a importância da arte (escrita, música, artes visuais, teatro etc.) em situações extremas. Para tanto, Luciane trará um exemplo da importância e impactos exercidos pela obra de Dante Alighieri sobre Primo Levi em Auschwitz.

A especialista explica que Primo Levi é o principal autor do Holocausto por ter feito uma análise científica e extremamente reflexiva da experiência concentracionária, dada a sua primeira formação como químico. A carreira de escritor veio depois e se desenvolve paralelamente à de químico.

Nesse contexto, as informações trazidas por ele em suas diversas obras – que têm como foco central Auschwitz – são uma poderosa contribuição para melhor compreendermos a natureza humana e seu potencial construtivo e, principalmente, destrutivo.

A relação dos escritores Primo Levi e Carolina Maria de Jesus se estabelece porque há similaridades entre os aspectos humanos da experiência de ambos com a fome, o frio e o trabalho árduo, bem como em relação à injustiça e, principalmente, à desumanização. Também há semelhanças no modo como ambos utilizaram a arte, no caso a escrita, para superar os desafios vividos e tentar, de alguma forma, organizar o caos social.

Por sua vez, Naia Veneranda estabelece uma relação entre a escritora Carolina Maria de Jesus e o pintor Van Gogh, que também viveu em situações precárias e até mesmo de miséria. Contudo, consciente e declaradamente pela arte, ele também encontrou meios e motivos para sobreviver. No caso de Van Gogh, não apenas os quadros, mas também as cartas tiveram um papel fundamental nesse processo. E é nessa necessidade vital de escrita que os três se encontram.

“Trata-se de uma visão inusitada e enriquecedora para quem se interessa por algum dos personagens ou pelos temas a que vamos aludir. Acho muito bom apresentarmos visões diferentes sobre grandes temas ou personagens, que não são grandes por acaso e, portanto, podem sempre se prestar a novas abordagens”, esclarece Naia Veneranda.

Primo Levi (Turim, 31 de julho de 1919 – Turim, 11 de abril de 1987) foi um químico e escritor italiano. Escreveu memórias, contos, poemas, e novelas. É mais conhecido por seu trabalho sobre o Holocausto, em particular, por ter sido um prisioneiro em Auschwitz-Birkenau. Seu livro Se questo è un uomo (É isto um Homem?) é considerado um dos mais importantes trabalhos memorialísticos do século XX. Seu livro Il sistema periodico (A Tabela Periódica), por sua vez, foi considerado o melhor livro de ciência já escrito pela Royal Institution.

Carolina Maria de Jesus (Sacramento, 14 de março de 1914 – São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) foi uma escritora brasileira, conhecida por seu livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” publicado em 1960. Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958, tem seu diário publicado sob o nome Quarto de Despejo, com edição do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso e chegou a ser traduzido para catorze línguas. Carolina de Jesus era também compositora e poetisa. Sua obra permanece objeto de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior.

Vincent Willem Van Gogh (Zundert, 30 de março de 1853 – Auvers-sur-Oise, 29 de julho de 1890) foi um pintor holandês considerado uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental. Ele criou mais de dois mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida. Teve uma intensa troca de cartas com o irmão Theo, material que também pode ser considerado parte de sua obra. Entre suas pinturas mais conhecidas estão: Os Comedores de batatas; Natureza morta com absinto; A italiana; A vinha encarnada; A casa amarela; Retrato do Dr. Gachet; Girassóis; Vista de Arles com Lírios; Noite Estrelada.

O Papo de Boteco é uma criação da Galática Educação & Cultura. O conceito é de um happy hour para a mente, com a proposta de por novas ideias na cabeça e provar que é possível ter uma conversa de conteúdo num ambiente descontraído, fora dos meios acadêmicos.

 

Realizado desde o início de 2019, o Papo de Boteco tem como local de reunião o tradicional Restaurante Sujinho. Com seu nome irreverente, o Sujinho segue com uma história de mais de 50 anos. O clima descontraído, o ambiente aconchegante e uma comidinha simples, mas com sabor da casa da mamãe, reforçam suas tradições.

 

Tema do encontro: Diálogos Inusitados entre a Escravidão a Arte e o Holocausto.

Palestrantes: Luciane Bonace e Naia Veneranda.
Data: 17 de fevereiro (segunda-feira)
Horário: das 19h30 às 21h30.
Local: Sujinho Restaurante. Rua da Consolação, 2.063, esquina com a Rua Matias Aires, perto do Metrô Paulista, Telefone: (11) 3231-5487. São Paulo, SP, CEP: 01301-100.
Site: sujinho.com.br

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