8 de outubro de 2019

A importância de saber ouvir

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Com as novas tecnologias, as pessoas foram seduzidas pelos modernos meios de comunicação. Elas não conseguem mais focar sua atenção em apenas uma coisa. É comum, nos cinemas, vermos os jovens assistindo ao filme e teclando no celular ao mesmo. Como então prender sua atenção em sala de aula?

A importância de saber ouvir, num mundo dominado pelo barulho e pelos excessos, foi o tema da palestra do professor Carlos Eduardo de Almeida Sá, na quarta edição do Papo de Boteco, que aconteceu no dia 24 de junho passado, no Satisfatto Bistrô.

Edu Almeida é  autor do livro Uma Viagem de Descobrimento: a Cultura do Ver e Ouvir e a Sala de Aula. Este assunto também foi escolhido como tema de sua tese de doutorado, que foi embasada em uma pesquisa sobre o ouvir, feita com jovens em escolas públicas.

Em sua exposição, Edu Almeida lembrou que, durante sua pesquisa, observou atitudes desconcertantes dos professores durante suas aulas, poos pediam silêncio por meio de gritos. Outros chegavam até a utilizar apitos para impor a ordem. Em seu trabalho, o especialista contou mais com a colaboração dos alunos do que dos professores, dominados pelo estresse e pela ansiedade.

Na verdade, os jovens nunca se comunicaram tanto quanto agora, mas de maneira diferente das gerações anteriores. Surge a dúvida: com as novas tecnologias, até quando irá vigorar o antigo modelo do professor falando para a classe e contando com poucos recursos para prender sua atenção?

Edu Almeida explica que vivemos numa sociedade dominada pelos excessos, pois há uma excessiva oferta de tudo hoje em dia: música, comida, diversões, etc. A cultura dos excessos afetou o nosso sentido auditivo e perdemos o respeito ao silêncio, que é o melhor receptáculo à oralidade. É muito difícil locais onde as pessoas possam conversar sem barulhos, uma prestando atenção às palavras da outra, com um diálogo de qualidade.

“Ouvir requer esforço, muito esforço,  numa sociedade que privilegia o ver em detrimento do ouvir. Para ouvir precisamos ser passivos no diálogo. Esperar que o pensamento do depoente ou locutor encerre. Esse esforço começa, sem dúvida, em cada um de nós se quisermos construir uma sociedade melhor. A psicanálise há muito demonstra o poder curativo da fala sem interrupções, ato louvável num diálogo, e da escuta atenta, afetiva e cautelosa”, assegura Edu Almeida.

Em sua opinião, é preciso pensar até mesmo em nossa postura de ouvinte, nossas atitudes corporais e expressões faciais e de que maneira elas podem significar uma falta de respeito para com o nosso interlocutor.

O palestrante também citou um curioso fato que está em seu livro: uma conhecida atriz norte-americana afirmou que se recusa a ir a restaurantes com piano ou qualquer tipo de música, pois quer conversar com suas amigas em um ambiente silencioso, tranquilo e calmo. Pessoas idosas também apreciam conversas. Mas tudo isso pode soar estranho para as pessoas acostumadas com os ruídos das grandes cidades e que perderam o contato com a cultura do silêncio.

Quando imersas em ambientes à prova de som, como os estudios de rádio, os indivíduos tendem a estranhar o silêncio absoluto, mas com o tempo se acostumam e até aproveitam para relaxar. Num mundo dominado pelas imagens, é preciso cultivar a arte de saber ouvir com atenção, com real interesse no interlocutor.

“Numa cultura do ouvir, a prioridade deve ser o diálogo, a voz dos alunos e a voz dos professores, a fim de que os vínculos de afeto possam existir nesses espaços e de que os conteúdos  educativos possam ser melhor absorvidos”, diz Edu Almeida em seu livro.

Os jovens já se habituaram a viver numa conexão generalizada, pois nasceram nessa cultura. Porém ouvir, (re) aprender a ouvir e resgatar o sentido da escuta inteligente são procedimentos simples, mas que requerem, antes de tudo, o esforço do educador para essas práticas.

          Sobre o palestrante:

Carlos Eduardo de Almeida Sá  ou Edu Almeida é Doutor em Teorias e Políticas da Educação pela UNINOVE,  Mestre em Comunicação e Semiótica pela pela PUC-SP, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Sociopsicologia pela FESP-SP, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e Graduado em Comunicação Social, Radialismo pela USJT, Universidade São Judas Tadeu. Tem aproximadamente 25 anos de docência e desde 2001 leciona para o nível superior. Lecionou para cursos de Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi, Faculdade Cásper Líbero, UniSantanna, Centro Universitário Ibero Americano, e Centro Universitário FIEO. Lecionou também Tecnologias Educacionais para cursos de pós-graduação em Educação na Universidade Nove de Julho. Participa do grupo de pesquisa Comunicação e Cultura do Ouvir da Faculdade Cásper Libero. Atualmente é docente dos cursos de Comunicação do Centro Universitário das Américas. É autor do livro Uma Viagem de Descobrimento, Cultura do Ver e do Ouvir em Salas de Aula.

O Papo de Boteco foi criado com o conceito de ser um happy hour para a mente. Sua proposta é colocar temas polêmicos em discussão e provar que é possível ter uma conversa de conteúdo num ambiente descontraído, fora dos meios acadêmicos.  Ele acontece uma vez por mês.