19 de maio de 2019

Papo de Boteco: testemunhos do subsolo da Avenida Paulista na Ditadura

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Papo da vez trouxe a pesquisadora Sônia Guggisberg que trata sobre o subsolo da Avenida mais movimentada de São Paulo

 

O bistrô Satisfatto, da Galeria Metrópole, estava lotado de curiosos nessa segunda-feira (30/04). No Papo de Boteco, idealizado pelas jornalistas Sonia Avallone e Naia Veneranda e promovido pela Galática Educação & Cultura, a pesquisadora Sônia Guggisberg trouxe como tema o seu doutorado: “Testemunhos do subsolo da Avenida Paulista na Ditadura”.

 

“Uma obra surpreendente dos anos 70 poderia ter mudado a história dos paulistas”, disse a pesquisadora. Com um projeto chamado de “Nova Paulista”, concebido em 1967 pelo engenheiro Figueiredo Ferraz e pelo arquiteto Nadir Mezerani, a ideia era fazer com que o trânsito de veículos fosse realizado por uma via subterrânea.

 

“Quando eu me dei de cara com o subsolo da Avenida Paulista, não deu para ignorar”, a pesquisadora exaltou. Guggisberg, com os seus estudos, começou a mapear a história desse projeto. Descobriu que o arquiteto do subsolo ainda estava vivo e percebeu que a história ia além do esquecimento: a política estava enraizada na proposta do Faria Lima, prefeito da época.

 

“O que está no subsolo ainda sobrevive”, disse. O subsolo da Avenida Paulista é importante para a sociedade e a política. A pesquisadora esclarece que diversas histórias estavam escondidas embaixo dos pés da população, literalmente.

 

“Eu descobri que a obra foi feita em 1970 e enterrada em 73”, explicou. A pesquisadora foi atrás de testemunhas para que lhes contassem sobre a história, obra e tudo aquilo que envolvia as questões do subsolo. Faria Lima tirou o projeto do papel. As primeiras obras de ligação foram realizadas entre a Avenida Rebouças, Doutor Arnaldo e a Rua da Consolação.

 

Em 1971, Guggisberg explicou, foi inaugurado o trecho inicial do túnel, localizado entre a Consolação e a Haddock Lobo, que acabou se tornando o exemplo factível do que poderia ter se tornado a Paulista em toda sua extensão. O mais curioso foi o nome dado ao espaço do canteiro central: Praça do Ciclista.

 

Sônia Guggisberg, também videomaker, fez um documentário sobre a questão. O público, intrigado, questionou sobre as possíveis utilizações do subsolo. “Poderia ser utilizado para os transportes”, disse um. “Seria uma forma de incentivo à mobilidade”, disse outro. A pesquisadora, empolgada, explicou que a política, na maioria das vezes, fala mais alto.

 

O documentário da Guggisberg explica que após a inauguração inicial, Figueiredo Ferraz foi eleito para a prefeitura de São Paulo. “A obra dele é levada adiante. Chega até a região da Paraíso”, disse um dos entrevistados. A expectativa era que o subterrâneo fosse uma alternativa ao trânsito de São Paulo, que já era extremamente caótico.

 

Segundo as informações levantadas pela pesquisadora, o projeto começou a sofrer forte oposição por parte do governo ditatorial, que tomava conta do país. O prefeito Ferraz, insatisfeito com a interferência militar, começou a se indispor com a ditadura e, em 1973, o governador Laudo Natel o demitiu por carta e nomeou Miguel Colassuono como novo mandatário da cidade.

 

A primeira atitude de Colassuono, obviamente, foi interromper a obra iniciada por Figueiredo Ferraz. No documentário da pesquisadora, é explicado que o projeto foi evitado, principalmente, devido aos apartamentos, escritórios e outros empreendimentos que haviam ocupado, de maneira indevida, o subsolo da avenida. “A oposição destruiu e enterrou a história da subterrâneo da Paulista”, disse Guggisberg.

 

O público do Papo arregalou os olhos quando percebeu que o subterrâneo seria uma alternativa favorável para a cidade de São Paulo, entretanto, ficou mais indignado ao saber que não pode ser visitado.

 

“O fator político prejudicou toda uma sociedade. É impressionante”, reclamou um participante. Sônia Guggisberg busca conscientizar a população. “Temos que questionar e pesquisar. Tem que ser levado a público”, disse.

 

O túnel seria obrigado a enfrentar 22 construções irregulares, entre elas, garagens, caixa forte de um banco estatal e até mesmo uma quadra de vôlei. “Seria uma forma de abrir espaço nessa cidade”.

 

“A ideia Nova Paulista era para preservar a convivência social e permitir que a pessoa andasse e atravessasse a rua sem precisar ir até o próximo quarteirão. O túnel contaria com galerias comerciais e haveria uma ligação os metrôs da linha 2 – Verde”, Guggisberg explicou.