2 de março de 2020

O efeito do exílio na obra das escritoras Herta Muller e Paula Ludwig é o tema do próximo Papo de Boteco.

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As especialistas em literatura Ana Luiza Rocha doVale e Mariana Holms conversam sobre a obra de duas importantes autoras em língua alemã e de como a vida em outros países influenciou a sua escrita.

A presença e o efeito do exílio na obra de duas importantes escritoras em língua alemã é o assunto em pauta  do próximo Papo de Boteco, que acontece no dia 9 de março. O tema do encontro é Memórias em trânsito. As literaturas de Herta Muller e Paula Ludwig e estará a cargo das especialistas em literatura Ana Luiza Rocha do Vale  (doutoranda em literatura comparada) e Mariana Holms (doutoranda e mestra em literatura alemã).

O local do evento é o bar e restaurante Sujinho.  A entrada é franca e as pessoas pagam somente pela consumação. O encontro é uma realização da Galatica Educação & Cultura. Um detalhe importante: o Papo de Boteco agora está em novo horário: das 20 às 22 horas. A conversa entre o convidados e o público será  entre as  20h30 e 22 horas.

Pouco conhecidas no Brasil, Herta Müller e Paula Ludwig têm como ponto comum o fato de escreverem no idioma alemão e de terem se exilado em outros países. A ganhadora do Prêmio Nobel Herta Müller é romeno-alemã, tendo nascido em Nitchidorf, um vilarejo na Romênia cujos habitantes eram pessoas de origem germânica.

Escreve quase sempre em alemão clássico, mesclando elementos de alemão suábio, romeno e russo, entre outros idiomas. Ela se exilou em Berlin, na Alemanha, durante a ditadura do presidente da  Romênia Nicolae Ceauşescu, cidade onde vive até hoje.

Por sua vez, a poeta austríaca-alemã Paula Ludwig exilou-se no Brasil, durante 12 anos, devido à ascensão do nazismo na Alemanha. Ambas incorporaram a experiência do exílio em sua obra, que tem pontos em comum: elas e seus personagens transitam entre países, idiomas, paisagens e, de certa forma, entre gêneros literários. Ambas lidam em alguma medida com o tema da guerra, do sofrimento, de algo que por vezes alguns teóricos da literatura tratam como indizível.

Memórias, viagens, deslocamento, exílio e pátria perpassam os textos de Paula Ludwig e Herta Müller não só do ponto de vista temático, mas também como  marcas na forma literária. Assim, há personagens deslocados, exilados, composições fragmentadas, palavras do português em poemas em alemão (no caso de Ludwig) ou do russo, do romeno e do alemão suábio em romances em alemão clássico (no caso de Müller).

São literaturas que têm a memória como uma matéria-prima (entre outras), e que estão em trânsito, deslocadas, provocando deslocamentos sob várias perspectivas. No caso de Herta Müller, seu trabalho é sempre identificado como literatura de língua alemã, e muito raramente como literatura romena. No entanto, muitos de seus personagens, paisagens, referências históricas, geográficas e culturais estão situados na Romênia.

A experiência do exílio é importante porque se tornou matéria de trabalho de ambas as autoras. Um impacto muito concreto é o trânsito entre idiomas: no caso de Paula Ludwig, há menções a paisagens brasileiras e inserção de palavras em português nos poemas em alemão.

No caso de Herta Müller, embora ela escreva em alemão “clássico”, há várias influências do alemão suábio, o “alemão do vilarejo romeno”, em seus escritos. Além disso, ela aborda muito as diferenças de visão de mundo que podem ser percebidas ao observarmos as palavras por meio das quais latinos (como os romenos) e saxões (como os alemães e as minorias germânicas na Romênia) nomeiam as coisas.

Ana Luiza Rocha do Vale – Doutoranda em Literatura Comparada e Mestra em Museologia.

Mariana Holms – Doutoranda e Mestra em Literatura Alemã.

Herta Müller – Nascida em (Niţchidorf, Timiş, em 17 de agosto de 1953, é uma novelista, escritora, poetisa, ensaísta e tradutora alemã nascida na Romênia. Herta nasceu numa família católica que vivia da agricultura em Niţchidorf,  uma aldeia falante de alemão até aos anos 1980 e localizada na região de Banat, na zona ocidental da Romênia. A sua família fazia parte da minoria alemã da Romênia.

Destaca-se pelos seus relatos acerca das duríssimas condições de vida na Romênia sob o regime político comunista de Nicolae Ceauşescu. Foi casada com o escritor Richard Wagner. A utilização da língua alemã por Herta Müller é um signo de resistência, mas também, uma fonte de preconceito, trauma e violência. A ficção de Müller é moldada pela violência contra a minoria de fala alemã na Romênia da ditadura comunista. Foi galardoada com o Nobel de Literatura de 2009 por “com a densidade da sua poesia e a franqueza da sua prosa, retratar o universo dos desapossados”.

Paula Ludwig – Nascida em 1900; falecida em 1974 em Darmstadt foi uma poeta austríaca/alemã que ganhou o Prêmio George Trakl de 1963 . Em 1940, ela iniciou um período de exílio no Brasil devido à ascensão do nazismo na Europa. Seu trabalho caiu em relativa obscuridade e freqüentemente envolvia sonhos.

O Papo de Boteco é uma criação da Galatica Educação & Cultura. O conceito é de um happy hour para a mente, com a proposta de por novas ideias na cabeça e provar que é possível ter uma conversa de conteúdo num ambiente descontraído, fora dos meios acadêmicos.

Realizado desde o início de 2019, o Papo de Boteco tem como local de reunião o tradicional Restaurante Sujinho. Com seu nome irreverente, o Sujinho segue com uma história  de mais de 50 anos. O clima descontraído, o ambiente aconchegante e uma comidinha simples, mas com sabor da casa da mamãe, reforçam suas tradições.

 

Tema do encontro: Memórias em trânsito. As literaturas de Herta Muller e Paula Ludwig.

Palestrantes: Ana Luiza Rocha do Vale e Mariana Holms.

Data: 9 de março (segunda-feira)

Horário: das 20h00 às 22h.

Local: Sujinho Restaurante. Rua da Consolação, 2063, esquina com a Rua Matias Aires, perto do Metrô Paulista, Telefone: (11) 3231-5487. São Paulo, SP, CEP: 01301-100.

Site: sujinho.com.br.

Sem cobrança de couvert, as pessoas pagam somente pelo que consumirem. Aceita pagamento com cartão.