20 de março de 2019

Lançamento do Papo de Boteco – projeto cultural no mês de março em São Paulo

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O tema foi a trajetória dos jogadores negros que conquistaram posições de destaque no  futebol nacional apresentada pelo professor e cientista social  Gustavo Ambrosio

O futebol é um esporte democrático, porém de vez em quando sua reputação é esfolada pelo preconceito racial, que teve origem na história da modalidade – no início do século passado, quando o acesso era vetado a negros e mulatos. Na apresentação do projeto do Papo de Boteco, idealizado pelas jornalistas Sonia Avallone e Naia Veneranda e promovido pela Galática Educação & Cultura, o cientista social e professor Gustavo Ambrósio falou de uma das suas grandes paixões o futebol e expôs como os notáveis jogadores negros e mulatos conseguiram ascender socialmente.

 

professor e cientista social  Gustavo Ambrosio. (Foto: Shinagawa Fotografia)

A palestra de Gustavo Ambrósio foi baseada no livro “O Negro no Futebol Brasileiro” (5 º. edição da Editora Mauad), do jornalista e escritor Mario Filho, que em sua obra não só escreve sobre a história do futebol  como ajuda a construí-la.  Gustavo envolveu os presentes contando com muita propriedade o percurso do futebol nacional – partindo de um início elitista e branco para alcançar ao final a democratização racial. Discorreu sobre os jogadores que marcaram época como Carlos Alberto, Manteiga, Friedenreich, Fausto dos Santos, o Maravilha Negra, Domingos da Guia, o Divino Mestre, Leônidas da Silva, o Diamante Negro, Garrincha, Pelé entre outros.

 

O bistrô Satisfatto, na Galeria Metrópole, região da República, foi o ponto de encontro para o papo dessa segunda-feira (12/03). A casa estava cheia e o público, interessado no tema provocativo trocou muitas ideias com Gustavo. Para entrar no clima do Papo de Boteco, o gerente e cozinheiro Adriano Oberhuber elaborou um cardápio temático para degustação dos participantes do evento.

 

O professore Gustavo, acostumado a lidar com plateias, explicou sobre a resistência do negro no futebol brasileiro. Ao abordar sobre o primeiro capítulo do livro de Mauro Filho: “Raízes do Saudosismo”, Ambrosio destacou que a atuação dispersa do negro, não representava uma ameaça para a superioridade absoluta branca. Eles só conseguiam entrar em campo quando um jogador branco adoecia, estava fora ou impossibilitado de comparecer.

 

Os jogadores negros não eram admitidos em muitos clubes, em virtude do caráter aristocrático do esporte nos anos que sucederam sua chegada ao país. Quando conseguiam jogar em times grandes, para serem aceitos socialmente precisavam caprichar na vestimenta. Gustavo comentou que Carlos Alberto, que foi jogador do Fluminense, para entrar em campo passava pó de arroz no rosto. O professor destaca que: “Eles até poderiam jogar em times grandes, mas isso não significava o fim da discriminação. Esses jogadores não poderiam oferecer risco à supremacia branca, que era típica naquele momento”.

 

Primeiro Papo de Boteco. (Foto: Shinagawa Fotografia)

Segundo Ambrósio, o Vasco quebrou essa estrutura e colocou negros para ganhar os campeonatos. “Isso gerou uma quebra de perspectiva”, disse. O time ganhou visibilidade e incomodou a supremacia branca. “Os outros clubes, obviamente incomodados, buscaram evitar isso e criaram uma série de regras. O Vasco foi até expulso de campeonatos pela rigidez das regras”, explicou.

 

Fausto dos Santos, Domingos da Guia e Leônidas – nomes de grandes jogadores negros que deram a vida para sobreviverem em um período de segregação racial e falta de visibilidade – são exemplos dados pelo Ambrósio, que estão no livro do Mario Filho. “Alguns precisavam até falar que eram descendentes de europeus para serem aceitos nos clubes”, disse.

 

Ambrósio, no final da palestra, recordou que muitas coisas ainda não mudaram. “Até hoje temos casos parecidos. Quantos comentaristas negros nós temos? E treinadores? Ainda há uma segregação, mas felizmente está sendo combatida por grupos e protestos”, comentou o professor.