3 de outubro de 2019

Literatura coreana é apresentada no Papo de Boteco

Compartilhe

Os livros da premiada e aclamada escritora coreana Han-Kang foram discutidos em conversa descontraída. 

O perturbardor e insólito universo da premiada escritora coreana Han-Kang foi o tema do Papo de Boteco do  dia 16 de setembro, uma realização da Galatica Comunicação & Cultura que aconteceu no restaurante Sujinho. A conversa descontraída contou coma presença de uma platéia interessada em conhecer e discutir a obra de uma das mais aclamadas escritoras da atualidade, mas pouco conhecida no Brasil.

O encontro teve a presença de dois expositores especialistas na obra de Han-Kang: a  sul coreana Ji Yun Kim, radicada no Brasil há três anos, formada em literatura pela Universidade Sogang, na Coreia do sul, e Fernando Januário Pimenta,  graduado em Letras com habilitação em Português e Armênio (USP).

A apresentçao foi dividida em duas partes: na primeira, Ji Yun Kim analisou a obra Aula de Grego, que inclusive acabou de ser traduzida por ela para o português. Na segunda, Fernando Pimenta discorreu sobre o premiado romande A Vegetariana.

O romance Aula de Grego, publicado em 2011, trata da questão da linguagem e da sua importância no relacionamento entre os seres humanos. Mais especificamente das questões filosóficas e existenciais da linguagem. Na obra, um homem que perde a visão aos poucos e uma mulher que fica sem a voz tentam econtrar no aprendizado de uma língua morta, o grego antigo, uma solução para a sua incomunicabilidade.

Ji Yun Kim contou que ela mesma, nos primeiros meses no Brasil, passou por uma experiência interessante, semelhante à dos persoanagesn do livro: embora já estivesse dominando e entendendo a língua portuguesa, o fato de não ouvir e conversar na sua língua materna, o coreano, fez com que ela fosse criando uma sensação de distanciamento com as pessoas e a realidade. “Eu me sentia como se fosse um fantasma que flutuava”, explicou.

Esse exemplo ilustra bem a importância da linguagem em nossas vidas, inclusive como um signo do corpo. “A linguagem, pela sua própria natureza, pode expressar violência, mesmo sem essa intenção. Pode ser um instrumento de poder”, comentou Ji Yun Kin.

Protesto contra a violência

Por sua vez, o livro A Vegetariana recebeu o importante prêmio Man Booker International Prize. O romance conta a história de uma mulher que como uma forma de protesto contra a violência –  aos animais e seres humanos – deixa de ingerir carne. A princípio ela se torna vegetariana, o que causa incômodo ao marido, à sua familia e amizades. Com o tempo, deixa de ingerir qualquer alimento, na tentativa de se transformar num vegetal.

Fernando Januário comentou que essa reação extremada surge  como resultado da violência que a protagonista sofre por parte do marido e da sociedade. Na verdade, é uma reação também ao machismo presente na sociedade coreana tradicional, baseada no patriarcado.

A Vegetariana é um romance árido e seco, onde a palavra amor é citada uma única vez. É como se esse sentimento não existisse, e muito menos a compaixão. As mulheres são usadas e brutalizadas pelos maridos insensíveis e egoístas. Como reação, a personagem principal do livro quer deixar de pertencer à espécie humana.

Fernando Januário comentou que A Vegetariana faz os homens refletirem sobre a sua posição na família e no relacionamento conjugal. Ji Yun Kim acredita que esse machismo também é acentuado, na sociedade coreana, pela confucionismo, uma vez que essa filosofia exalta os valores do homem como provedor do lar e da mulher como sua companheira submissa.

A sul coreana Ji Yun Kim radicou-se no Brasil há três anos. Ela tem formação em cultura chinesa e filosofia na Universidade Sogang,  na Coreia do sul. É mestre em literatura brasileira pela Universidade de Estudos Estrangeiros na Coreia do Sul e doutoranda no programa LETRA de Estudos da Tradução, na Universidade de São Paulo. Ji também é professora no curso de coreano do departamento oriental da USP.

Fernando Januário Pimenta é graduado em Letras com habilitação em Português e Armênio (USP), mestre em Estudos Comparados de Literatura em Língua Portuguesa (USP) e doutorando no Programa LETRA, em Estudos da Tradução (USP). Fernando também é professor de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio e estudioso da obra da escritora coreana Han-kang.

O Papo de Boteco é uma criação da Galatica Educação & Cultura. O conceito é de um happy hour para a mente, com a proposta de por novas ideias na cabeça e provar que é possível ter uma conversa de conteúdo num ambiente descontraído, fora dos meios acadêmicos.

Realizado desde o início de 2019, o Papo de Boteco agora tem como local de reunião o tradicional Restaurante Sujinho. Com seu nome irreverente, o Sujinho segue com uma história  de mais de 50 anos. O clima descontraído, o ambiente aconchegante e uma comidinha simples, mas com sabor da casa da mamãe, reforçam suas tradições.